quinta-feira, 13 de junho de 2013

Extra Terrestre em Uberaba???

Esclarecida a “múmia ET” de Uberaba Ela veia à tona em 2004, em circunstâncias dignas de uma história de mistério. O patriarca Wilson Estevanovic seria zelador de inúmeros artefatos, e à beira da morte teria encarregado o filho Wellington com “a missão de recolher as peças” espalhadas em caixas lacradas pelo país. “A caixa número 7 deveria ser aberta apenas sete após a morte de Wilson”, teria ordenado o pai “momentos antes de morrer”. Quando a data chegou e a tranca foi aberta, “a surpresa. Dentro havia o esqueleto mumificado de um ser com características inusitadas. A cabeça mede 97 centímetros. Da traquéia à bacia, 12 centímetros. Os olhos são desproporcionais, não há ouvido, a arcada dentária está completa e há seis dedos nos pés. Ao lado do esqueleto, na mesma caixa, uma pedra. ‘É um fragmento de meteorito com 14 quilos’, explica [Wellington], citando características da suposta ‘pedra do espaço’”. [fonte] Novas informações lançam dúvida sobre todo este mistério com a sugestão nada sutil de que o esqueleto seria uma criatura extraterrestre. Esta idéia chegou ao cúmulo quando um questionável programa de TV japonês chegou mesmo a afirmá-lo e “reconstruir” o esqueleto nas imagens vistas acima, incluindo a cor azul (!) para o suposto alienígena. Mostramos aqui que o esqueleto é em verdade original de um Museu de Antropologia em Salvador, consistindo de um caso de hidrocefalia e outras malformações. Apesar delas, é muito humano. Foi descartado por volta de 1998, ao redor da mesma época em que Wilson Estevanovic faleceu e alguns anos antes que a “múmia ET” fosse supostamente descoberta pelos seus filhos. Continue lendo para as novas fotografias e esclarecimentos. Alerta: AS IMAGENS SÃO FORTES. São exibidas aqui com o intuito de elucidar de forma conclusiva este não-mistério. ESPÉCIME DE MUSEU Acima, à esquerda, a ossada exibida no Museu Estevanovic em 2004. E à direita, fotografias tomadas por Alexandre Araújo em 1995 de uma peça que fazia parte do acervo do Museu Antropológico Estácio de Lima, no prédio do Instituto de Medicina Legal Nina Rodrigues na Bahia. “Era uma criança com hidrocefalia, fissura palatina e pés retorcidos. O interessante é que a peça começou a se desgastar, porque o método com o qual foi embalsamada não era tão eficiente. Ela já apresentava sinais de decomposição e foi retirada do acervo. Foi nessa época [1995] que eu a fotografei. E então, em uma visita ao museu em 1998, foi-me dito que a criança com hidrocefalia havia sido ‘descartada’ do acervo porque se estragou bastante”, conta Araújo. “Após ver a ‘múmia dos Estevanovic’, descobri que uma integrante da família estudava biologia na UFBA. Assim, creio que foi dessa forma que o circo [Estevanovic] adquiriu sua múmia, e que a ossada já bastante decomposta é a mesma do Museu Estácio de Lima. Apenas um caso de hidrocefalia com outras teratologias”. Araújo complementa que “as fotos que possuo também apresentam os dois dentes incisivos num apêndice na fissura palatina e a ausência de nariz. É impressionante a semelhança, apenas, na foto, a criança ainda possui pele, cabelos e está mais conservada do que na ossada. Não posso afirmar, mas é muita coincidência que uma neta de Wilson Estevanovic, Veruska Estevanovic, estude biologia em Salvador, na UFBA, e que o Museu Estácio de Lima, na mesma cidade, tenha descartado a peça do acervo por volta de 1998, justamente quando os Estevanovic alegam terem ‘descoberto’ a múmia entre os pertences de Wilson Estevanovic”. De fato, embora os Estevanovic contem que o esqueleto teria sido descoberto dentro da caixa em 2004, a caixa em si teria sido coletada por volta de 1997. Artigos sobre o caso na imprensa também confirmam que Veruska Estevanovic seria na época “estudante de ciências biológicas da Universidade da Bahia”. São várias coincidências. IDENTIFICADA E falando em coincidências, vale notar que não há apenas a coincidência de todas as anomalias anatômicas entre o esqueleto exibido pelos Estevanovic como misterioso e o espécime no museu em Salvador exibido anos antes, indo desde a fissura palatina aos pés varos congênitos. Como destacado na imagem mais acima, mesmo uma mancha na parte esquerda da cabeça – decorrente talvez de uma falha nas fissuras cranianas – bem como as próprias falhas na caixa craniana encontram uma combinação aparentemente perfeita. É muito pouco plausível que duas crianças partilhassem não apenas as mesmas síndromes, já raras, como estas resultassem em falhas de forma e posição idênticas. De alguma forma, esta peça saiu de um museu de medicina legal em Salvador e foi parar nas mãos dos Estevanovic em Uberaba, que alegam desconhecer sua origem e mesmo se o esqueleto seria humano. Identificada a origem do esqueleto, estas novas evidências refutam de forma definitiva as declarações de “especialistas” citados por muitos veículos ao abordar o caso, embasando os pareceres que citamos na época de que “tudo indica serem os restos mortais de uma pobre criança afligida por hidrocefalia, lábio leporino e outras deformidades congênitas”. “Pelo tamanho, a criança deve ter no máximo dois anos de idade e era portadora de uma série de malformações, a saber: hidrocefalia, lábios leporinos e raquitismo (pela deformação das tíbias). Há síndromes que podem responder por isso como sífilis congênita”, declarou-nos o médico Carlos Pompilio. A explicação se soma às informações fornecidas na época pelo doutor Paulo Bandarra, que chegou mesmo a indicar outro caso extremo de hidrocefalia, e agora complementa que “se trata do mesmíssimo caso de uma criança morta há pouco tempo, desrespeitosamente tratada como ET”. O “SUPOSTO POSSÍVEL SER EXTRATERRESTRE” Tanto alguns ufólogos quanto veículos de mídia e os Estevanovic chegaram a mencionar a possibilidade de que fosse uma combinação de malformações, mas insistiram na mesma medida que se deveria considerar que talvez fosse um extraterrestre. Nossas negativas veementes de tal tipo de especulação irresponsável chegaram mesmo a ser classificadas de “comodistas”. Teríamos a mente fechada, seríamos “muito céticos”. Advertimos que “o prudente e ético a fazer seria sim analisar a ossada, mas declarações públicas conscientes devem contrariar qualquer tipo de especulação. As chances e conseqüências morais de que o caso aqui envolva a exploração vil do sofrimento humano superam e muito as ínfimas chances de que se confirme ser algo contrário”. Exemplares de teratologias humanas são conservados e exibidos em museus de medicina para fins educacionais. No entanto os fins educacionais de exibir a peça em um museu itinerante para crianças, com sugestões insistentes de que seria misteriosa e a especulação livre de que poderia ser mesmo extraterrestre são muito questionáveis. Contatamos Wellington Estevanovic a respeito destas novas informações. Estevanovic foi enfático ao negar que tenha afirmado alguma vez que o esqueleto fosse extraterrestre, disse ignorar a origem do material, e culpou aos ufólogos por explorar o caso. Fato é que todos que defendem que os restos mortais seriam de um alienígena incorrem no que pode ser mesmo vilipêndio ao cadáver. A imagem da criança em decomposição, com orelhas, cabelos e as pálpebras entreabertas deve assombrar aqueles que prefeririam que fosse um alienígena azul sem orelhas. Não bastasse a morte prematura da criança, alguns teimam em desumanizá-la. É nossa esperança que seu rosto nada azul encerre as especulações inconseqüentes a seu respeito. [Com enormes agradecimentos a Alexandre Araújo, que efetivamente identificou o esqueleto, e a consultoria de Carlos Pompilio e Paulo Bandarra]